” Quem exige o trabalho de crianças não tem idéia do sofrimento psicológico. É marcante. As crianças deixam de aprender, de ir à escola e, quando não alfabetizadas, continuam analfabetos porque o cérebro está voltado para tarefas repetidas , não exercita a criatividade nem os sonhos. O futuro é feito de sonhos e criatividade, e se a criança não sonha quem será esse adulto?”
Essa pergunta é feita por quem trabalha com crianças há 40 anos. Nalva Cardoso Dantas, Chefe da Divisão de Erradicação do Trabalho Infantil do Ministério do Trabalho escolheu um dia incerto e fez um trabalho nas ruas de Brasília, similar ao que desenvolveu em Roraima, no ano passado, onde 118 crianças venezuelanas, indígenas , haitianas e até crianças das Guianas foram retiradas dos lixões, feiras livres e carvoarias. Aqui em Brasília, a equipe uniu-se aos assistentes sociais da Sedestmidh.
Eles intitularam a operação como “um dia de transformação para conscientizar as pessoas a não comprarem produtos vendidos por crianças”.
O trabalho infantil está previsto na lista das piores formas de trabalho infantil previsto no estatuto das criança e do adolescente.
Na esfera mundial o Brasil tem um compromisso importante. Precisa eliminar toda forma de trabalho infantil dos registros, até 2025, para cumprir um compromisso internacional, perante os demais países.
” Há um risco da integridade física dos meninos. Todos aquí somos parceiros nesta luta porque queremos acabar com esse trabalho infantil. Qualquer pessoa do povo nunca tem uma ação pequena quando se trata de inibir o trabalho infantil”, afirmou André Santoro, da Gerência da Disef da Secretaria SEDESTMIDH.
Os Assistentes Sociais se dividiram em grupos, em uma ação, entre o Setor Comercial Sul, Setor Hoteleiro e Rodoviária, entregaram folhetos explicativos sobre como e por que coibir o trabalho infantil, e saíram à procura de pessoas que estivessem colocando crianças para vender produtos nas ruas, ou entregar folhetos, uma outra forma comum de explorar o trabalho de crianças.
José Carlos Cavalcanti, servidor público, é contra os jovens permanecerem nas ruas para vender pipoca, frutas, ou entregar folhetos.
“Acho um bom incentivo, essa campanha porém, o jovem deve iniciar o trabalho mais cedo para que evite a criminalidade. Deve fazer cursos de capacitação oferecidos pelo Senai e Sesi para que, assim, se preparem para a vida e se profissionalizem”.
José Ramos Nascimento , também servidor público, é taxativo: ” fora do estudo não pode ficar mas depois o jovem precisa fazer alguma coisa. Os jovens precisam fazer cursos para que não tenham tempo para ir às ruas e ficarem expostos a qualquer influência”.
” Os próprios pais colocam as crianças nos sinais de trânsito, para vender balas, chicletes e, com certeza, não tem noção da gravidade disso. E isso, no meu entender, é exploração”, disse um popular que passava apressado pelo setor comercial sul.
“Nós queremos sensibilizar e conscientizar a população sobre a temática do trabalho infantil, sobre a violação desse direito porque a nossa grande dificuldade é em receber essas denúncias da população e como esses dados não chegam até os Creas e equipamentos de Assistência Social. É como se essa violação fosse invisível. Muitos outros casos; de violência contra a mulher, maus tratos a idosos e violência à crianças chegam até nós porque a população denuncia. A criança é vítima, por isso, trabalhamos junto à família, para poder garantir o direito dessa criança”, afirma André Santoro Coordenador das equipes de trabalho de Assistentes Sociais da Sdestmidh.
As operações tem continuidade em várias regiões do Distrito Federal, porém os dias determinados não são divulgados para não prejudicar a operação, em defesa da criança, da criatividade e dos sonhos.
Por, Claudia Miani